“Alcance a fluência em três meses.” “aprenda rápido”
“Nosso material didático desenvolvido internamente é reconhecido
internacionalmente pela maioria das instituições de ensino de idiomas”. As
pessoas interessadas em aprender um idioma, ao buscarem informações sobre
cursos são bombardeadas por promessas desse tipo. Desde o dia 13 de novembro de
2020 eu postei alguns artigos contanto meu percurso como aluno de francês,
inglês, espanhol e italiano. Depois falei sobre como me tornei professor de
inglês. Agora eu termino este bloco falando sobre Methods and Approaches, os
métodos e abordagens que foram usados nesse processo.
No livro Approaches and Methods in Language Teaching dos autores Jack C. Richards e Theodore S. Rodgers (Cambridge Language Teaching Library) descreve vários métodos. Na parte III, página 151, os autores descrevem as abordagens comunicativas atuais. Há pelo menos 5 delas: 1. Communicative Language Teaching, 2. The Natural Approach, 3. Cooperative Language Learning, 4. Content-Based Instruction, 5. Task-Based Teaching. "Isso não é conversa para leigos, você talvez dirá, mas para especialistas." É verdade, entretanto, eu acredito que, se você souber o mínimo sobre o assunto, isso vai fazer uma grande diferença na hora de fazer a escolha do seu curso, seja em escola de idiomas, professor particular ou se deve ou não estudar sozinho. Interessante que ao navegar em sites de diversas escolas de idiomas, quase nunca encontrei informações sobre a metodologia, método e abordagem usada pela escola. Um dos motivos dá-se ao fato que a maioria dos que buscam informação, pouco ou nada sabem sobre métodos e metodologia.
METODO COMUNICATIVO E TBL
Hoje quase todas as
escolas de idiomas dirão que usam o "Método Comunicativo" dinâmico ou ‘Abordagem Comunicativa’ com foco em conversação e interação entre os alunos. As expressões vêm do inglês Communicative Language Teaching
(CLT). Algumas características desse método são: 1) Aprender a se comunicar por
meio da interação no idioma (língua-alvo). 2) Exposição à língua-alvo através
de textos e discursos autênticos [Reading e Listening]. 3) O aluno se concentra
no próprio processo de aprendizagem além da linguagem. 4) Utilizam a experiência pessoal do aluno como elementos que contribuem para a aprendizagem.
5) Utilização de problem-solving task (tarefas para resolução de problemas) ou
projetos onde os alunos poderão [ou não] utilizar o vocabulário ou estruturas
da língua aprendidos e tomar decisões juntos. Os erros cometidos pelos alunos, faz parte do processo e os estudantes podem aprender com eles.
No meu curso de especialização na PUC, na matéria Pedagogia para o Ensino Superior, foi dada muita atenção aos princípios do TBL = Task Based Learning, (Aprendizagem com Base em Tarefas). Os alunos desempenham ou realizam tarefas encontradas no mundo real, com foco no sentido e no resultado. São incentivados a fazer investigações usando os seguintes instrumentos: brainstorming (debater ideias livremente), researching (pesquisa), selecting (selecionar), presenting (fazer apresentações). Entre os elementos do TBL estão a oportunidade de aprender fazendo, ativar recursos linguísticos pré-existentes, e aprender o que é preciso para executar a tarefa. Todas as tarefas usam processos cognitivos diferentes cujo objetivo é preparar o aluno a desenvolver uma habilidade essencial para os dias atuais: critical thinking (reflexão crítica). Por isso, no final da tarefa há momento para feedback e os alunos são convidados a refletir no seu desempenho pessoal e como grupo. Por exemplo, um curso pode ser dividido em blocos. No início de um bloco, o professor propõe uma tarefa para os alunos executarem. Os alunos farão utilizando o conhecimento de estratégias e língua que têm naquele momento. Depois disso, haverá uma discussão sobre o que é preciso para executar a tarefa de forma eficiente, usando conteúdo linguístico ideal. Nas próximas aulas, os alunos receberão ‘input’ (estratégia, vocabulário, estrutura de língua, desenvolvimento de habilidades específicas, prática em pronúncia etc.) e no final do bloco, serão convidados a executar a mesma tarefa, experimentar e colocar em prática o que foi aprendido e apreendido durante as sessões de ‘input’.
ABORDAGEM COMUNICATIVA E ‘INFORMATION GAP’
A abordagem comunicativa tem característica ampla para o ensino em vez de um método de ensino com conjunto definido de práticas de aula. Ajuda o aluno a desenvolver a sua competência comunicativa em um contexto autêntico. Para tal, nas atividades propostas ao grupo os alunos tornam-se instrutores durante a atividade, há atividades como dramatização, entrevistas, ‘information gaps’ (lacuna de informação), troca de opiniões, trabalhos em duplas ou grupos onde os alunos fazem pesquisa antes da aula para depois criarem um poster, menu ou fazer uma palestra.
Vamos falar sobre uma dessas características, a título de exemplo: Information gap. Trata-se de uma técnica onde os alunos não têm todas as informações necessárias para completar a tarefa ou resolver um problema. Desta forma, precisam interagir e se comunicar com seus colegas para completar as lacunas. Por exemplo, o professor pode pedir para os alunos encontrar diferenças e similaridades em duas fotografias, ou um aluno descreve uma fotografia para o outro aluno que faz um desenho da descrição. Os alunos têm cartões com informações diferentes e precisam trabalhar juntos para completar um cronograma ou calendário de atividades.
A vantagem dessa abordagem é que o as atividades produzem evidências concretas da competência linguística, ou falta dela. Os erros são vistos como uma maneira de aprender, e desenvolver o seu processo de aprendizagem. Geralmente a interferência do professor, e sugestão de correção é feita no final das tarefas e não durante, para não interromper o processo comunicativo. A desvantagem é que testa apenas a habilidade de comunicar informações factuais ou concretas.
VOLTANDO NO TEMPO
Agora vamos retroceder um pouco no tempo. Como mencionei na postagem do dia 20/11/2020 eu comecei a estudar inglês na Escola Fisk em 1979. A história do Mr Fisk, fundador da Escola é bem interessante e vale a pena uma pesquisa ou ler o livro Mr. Fisk – A trajetória do presidente de uma das maiores redes de escolas de idiomas do mundo, autor Elias Awad da editora Novo Século. Mr Fisk era americano, mudou-se ao Brasil e prosperou com escolas e franquias de ensino de inglês. Mr. Fisk criou o seu próprio método de ensino e desenvolveu um material didático para alunos brasileiros que tinha dificuldades específicas. Seu material tinha base nas diferenças entre as estruturas gramaticais das duas línguas: inglês e português, e ele criou uma maneira de apresentação dessas estruturas de forma ordenada, diferente dos livros existentes na época. Ele estabeleceu como primeira lição os auxiliares ‘Do’, ‘Did’, ‘Will’ e ‘Would’ e não o verbo ‘to be’. Hoje, analisando a informação acima, com o conhecimento que tenho das teorias linguísticas e de aquisição de línguas, posso afirmar que o Mr. Fisk usou o Método Audiolingual e fez adaptações que ele acreditava ser úteis para alunos brasileiros. Vou falar sobre este método em breve.
Vamos conhecer um pouco da história por trás do ALM. Nos primeiros 50 anos do século XX, as instituições educacionais nos EUA estavam convencidos que uma abordagem de leitura e tradução de gramatica era mais útil que uma abordagem focada na oralidade. Um dos motivos era o isolamento linguístico dos Estados Unidos na época. Entretanto, tudo mudou com o irromper da Segunda Guerra Mundial. Havia necessidade urgente dos soldados e comandantes americanos tornarem-se proficientes nas línguas de seus aliados e inimigos para postos de intérpretes e assistentes para as salas de códigos de tradutores. Os militares americanos proveram o ímpeto com fundos para cursos de línguas especiais e intensivos para seus soldados. Esses cursos logo ficaram famosos e conhecidos como 'The Army Specialized Training Program" (ASTP) ou 'The Army Method'. Muitos soldados foram treinados intensivamente em um curto espaço de tempo com alto índice de aproveitamento. Segundo Richards e Rogers (p. 51) os soldados ‘treinavam’ e faziam 15 horas de exercícios com um falante nativo e entre 20 e 30 horas de estudo pessoal, privado de até 6 sessões semanais. Em pequenos grupos de estudantes maduros e altamente motivados, foram alcançados excelentes resultados. Logo, o sucesso do ASTP levou instituições educacionais americanas a adotar a nova metodologia. Foi quando Charles Fries, linguista estruturalista, desenvolveu um método que usava treinamento intensivo com frases padrões, básicas para ensinar línguas estrangeiras. Para Fries, gramática ou ‘estrutura’ era o ponto inicial. A estrutura da língua era identificada com estruturas gramaticais básicas e padrões básicos da frase. A língua era ensinada através de atenção sistemática a pronúncia e repetição exaustiva de frases modelos básicas. Pouca atenção era dada ao ensino de vocabulário que era estritamente limitado e aprendido em contexto. Surgiu assim o ALM The Audiolingual Method. O método criado por Charles Fries foi fortemente influenciado pela teoria behaviorista (comportamental) do psicólogo de Harvard B. F. Kninner que acreditava que os seres humanos podem ser treinados com um sistema de reforço.
Depois da Segunda Guerra, com os Estados Unidos emergindo como potência internacional, houve grande interesse em se aprender inglês, em vários países do mundo e o um novo caminho começa a se estabelecer. Especialistas de ensino de idiomas combinaram a linguística estruturalista de Fries com os princípios da psicologia do behaviorismo e assim o Método Audiolingual se espalhou pelo mundo.
Enquanto isso, na Europa, principalmente no Reino Unido, os especialistas em linguística utilizavam o The Oral Approach and Situational Language Teaching cuja teoria subjacente era o behaviorismo (comportamento) e aprendizagem baseada na criação de habito onde o aluno recebe o conhecimento, fixa na memória o que apende através de repetição e usa durante a prática até que se torna uma habilidade pessoal. Assim como os britânicos, os franceses também viam o ensino da língua como um hábito a ser adquirido. Mas voltando ao método audiolingual ...
Surgiram várias críticas ao método, por exemplo, os alunos eram incapazes de transferir habilidades apreendidas com o método audiolingual para comunicação real fora da sala de aula. Além do mais, a experiência de estudar era vista como enfadonha (chata) e insatisfatório. Funcionava bem com os soldados, muito disciplinados, mas nem sempre com pessoas comuns. Como o método é totalmente focada em estruturas gramaticais, ele não explica ou contextualiza a gramática. Não há nenhum aspecto ‘cognitivo’ envolvido, ou seja, o estudante não processa informação, não percebe, integra, compreende ou responde adequadamente a todos os estímulos do ambiente.
Um grande crítico do método foi o linguista do MIT Noan Chomsky. Para ele a linguagem humana não era simples imitação de comportamento, mas é criada do nada através do conhecimento subjacente de regras abstratas. As frases não são aprendidas por imitação e repetição, mas são ‘geradas’ pela ‘competência’ subjacente ou implícita do aprendiz. Entre as falhas estava a incapacidade de ensinar proficiência comunicativa de longo prazo. Descobriu-se que a língua não é apreendida através de um processo de formação de hábitos e aprendizagem exaustiva, que os erros não devem ser necessariamente evitados a todo custo. Hoje o ALM é visto como uma etapa evolutiva dos estudos linguísticos de aquisição de língua estrangeira, e muito se aprendeu, principalmente com suas falhas, e foi necessário seguir em frente.
MÉTODO AUDIOVISUAL
Quando estudei francês, entre 1988 e 1990, eu utilizei o Curso de Idiomas Globo. Veja a postagem do dia13/11/2020 – Por que estudei francês? Qual a metodologia por trás deste curso? O método audiovisual que foi inicialmente desenvolvido em 1950, na França pela CREDIF (Centre de Recherceh et d’Etude pour la Diffusion du Français). Os cursos de Idiomas Globo utilizam como base o método audiovisual, associando sons e imagens. Cada frase gravada é associada com uma imagem que ilustra seu sentido. O aluno vê, ouve, lê, repete e finalmente assume o papel dos personagens e responde perguntas. O Método Audiovisual é de certa forma uma continuação do Método Audiolingual, mencionado anteriormente. Ele segue os princípios do método audiolingual, mas a diferença é a utilização de imagens, tão importante quanto os áudios gravados. O foco deste método é o conteúdo e o ensino da linguagem do cotidiano. Um review completo sobre o Curso de Idiomas Globo pode ser encontrado neste artigo no blog: CURSOS DE IDIOMAS GLOBO – Review (03/06/2017).
O método audiovisual evoluiu e por volta de 1990 havia ofertas de cursos baseados em filmes e estavam disponíveis na TV ou em fitas de videocassetes. Um curso de inglês que era apresentado pela TV Cultura era o Family Album USA.
O grande problema desse método, era que ao estudar sozinho, eu não tinha meios de colocar em prática o que havia aprendido. Faltava ativar este conhecimento. Hoje há muitos vídeos disponíveis no Youtube e outras plataformas que ensinam inglês, francês, italiano e outros idiomas. Acredito que esse método audiovisual que associa imagem e sons, continua sendo ‘um’ recurso para a nova geração de alunos, mas não pode ser o único.
Segundo os críticos do método audiolingual e audiovisual, a aquisição da língua é um processo mecânico com repetição e memorização de estruturas. Para eles, os alunos têm pouca autonomia no processo de aprendizagem. Com o avanço nas pesquisas na área de linguística, tais métodos são considerados obsoletos, pois o ensino de línguas não deve se reduzir a repetição e memorização ou como uma matéria teórica.
Pela minha experiência, como aluno que foi exposto ao inglês e francês através desses métodos, eu posso afirmar que havia muitas falhas. Devido a pouca atenção dada ao ensino de vocabulário, eu simplesmente não sabia algumas palavras básicas como 'tomada elétrica', mas conhecia palavras e expressões que não tinham utilidade na vida real. O grande esforço para conseguir que os alunos produzam enunciados livres de erros, tanto gramaticais quando na pronúncia, me deixava inseguro na hora de falar, impedindo a fluência.
Em 1996, quando eu comecei a trabalhar como professor de inglês, no CNA me identifiquei com o método utilizado pela escola. Houve uma mudança enorme de paradigma. A metodologia da escola trabalhava a comunicação oral e escrita em atividades que simulam situações do dia a dia. O aluno aprendia o idioma através da interação, e não repetindo e memorizando frases o tempo todo. Embora, há momentos da aula em que isso pode e deve ser aplicado. Havia momentos da aula, durante a prática, em que dávamos mais atenção a ‘drilling’, exercícios de repetição que se assemelhavam ao método audiolingual, mas não era o tempo todo. Eu percebi então que era muito mais fácil e rápido para os alunos aprenderem e apreenderem a língua inglesa, e além do mais, o uso de jogos e atividades dinâmicas deixavam as aulas muito mais leves e interessantes do que na época em que eu estudava. Quando eu estudei inglês em Londres, em 1999 as duas escolas onde eu estudei utilizam a abordagem comunicativa.
A partir do ano 2000 eu comecei a trabalhar como professor na Cultura Inglesa, e apesar de mudanças e aprimoramentos no ‘modus operandi’, ou ‘como’ damos aula, a base foi sempre a Abordagem Comunicativa. Quanto eu voltei a estudar francês em 2010 com um professor particular, ele usava material de grandes editoras, atualizados com recursos multimídia e propostas de atividades que possibilitava eu colocava o idioma em prática utilizando o francês como uma ferramenta de comunicação. Era uma metodologia comunicativa e eu senti que dei um salto rápido no domínio do idioma.
Houve muitas mudanças e aprimoramentos nos métodos e abordagens utilizados pelas escolas e professores para ajudar os alunos e estudantes a alcançar o domínio de novos idiomas. Os métodos audiolingual e/ou audiovisual continuam sendo empregados, mas geralmente em atividades em que o aluno irá estudar sozinho. Eu, por exemplo, ainda utilizo o curso de Idiomas Globo em PDF para estudar italiano, mas NÃO é o único material que eu utilizo. Gosto de utilizar esses livros antigos como uma forma de revisar e estudar sozinho, sem gastar muito tempo e dinheiro. É muito fácil encontrá-los no mercado livre, em sebos virtuais e físicos ou mesmo baixar gratuitamente da internet.
A Abordagem Comunicativa, empregada atualmente pelas boas escolas de idiomas, quando bem utilizadas e com professores bem preparados pode ajudar o aluno a otimizar seu aprendizado. É importante equilibrar o conhecimento explícito (conscientização e instrução) e o conhecimento implícito (exposição e imersão). Ao buscar informações sobre um curso, seria interessante o aluno perguntar: “Que metodologia ou abordagem vocês seguem?” Tome nota, depois volte aqui e compare.
Em um próximo artigo vou
falar mais sobre o conhecimento implícito e explicito e maneiras práticas de como
aumentar esses conhecimentos.
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