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6. Como me tornei professor de inglês?

Precisamos urgentemente de um professor: Sim ou sim? Equipamento de papelão corrugados, o que é isso? É fácil, pega o manual e traduz para o pessoal! O gringo fala devagar! Pelo amor de Deus, eu preciso de um professor substituto, é urgente! Só você pode me salvar! Você trabalha ou só da aulas? Em 1996 era assim! Quem falava inglês no Brasil, não procurava trabalho, o trabalho batia a sua porta.

As minhas histórias de professor e como aluno se misturam. Eu dei atenção ao meu percurso como aluno na postagem número 3 de 20/11/2020, mas agora meu objetivo é mostrar como e porque comecei nesta profissão e continuo por quase 25 anos.

Eu tinha quase 16 anos quando comecei a estudar inglês, e em 1982 recebi o certificado de conclusão do nível intermediário da escola de idiomas Fisk. Eu não consegui continuar o curso. Terminei o segundo grau e comecei a trabalhar no Banco Bamerindus em Santo André.

Só voltei a estudar inglês em 1986, quatro anos depois, com 24 anos de idade quando comecei a trabalhar para a Associação JW.org em Tatuí interior de São Paulo. Foram dois anos de curso ininterruptos com a professora Elise Fritz, usando o método English 900. Em 1988, tivemos nossa festa de formatura e eu fui o orador da turma.

Acredito que naquele momento foi lançada a semente que me levaria a ser professor. Como diz minha mãe, eu tinha medo, mas não tinha vergonha. Eu também tinha medo de falar em público, ainda mais em um idioma em que eu não era nativo. Muitos recusaram o convite porque não se sentiam seguros para isso. Mas eu deixei a vergonha de passar vexame e a timidez de lado e aceitei. Outra oportunidade em que eu falava a grupos de pessoas em inglês era quando recebíamos grupos de visitantes estrangeiros na filial da JW.org e eu era cicerone.

Agora com maior domínio do inglês, eu passei a trabalhar junto ao escritório da Comissão de Filial ou membros do conselho, (The Board) onde trabalhava o presidente da Associação no Brasil. Quando a Associação precisou treinar um grupo de funcionários que iriam viajar para a matriz em Nova York, e pediram para a Elise Fritz dar aula, ela recusou o convite, mas me indicou para a tarefa. Para a minha surpresa, eu fui convidado para ser o professor do grupo. Minha primeira reação foi recusar pois eu não me sentia preparado. Eu podia ser um bom aluno, mas professor? Não tinha didática nem conhecia estratégias para ensinar aos alunos. Foi um daqueles convites cujas respostas seriam: sim ou sim. Sem prática ou experiência como professor, ansioso, mas empolgado, comecei a ajudar aqueles colegas que precisavam, desesperadamente aprender o idioma para fazer um treinamento em Nova York. Entre eles, alguns que trabalhavam ao meu lado no escritório dos membros do conselho. Que sufoco! Essa foi a minha primeira experiência como professor.

Em 1995 eu me desliguei como voluntário da Associação e me mudei para Santo André, SP. Comecei a trabalhar na empresa do meu cunhado, fazendo trabalho burocrático. Meu cunhado gostava e queria muito estudar inglês e eu montei um pequeno grupo de alunos particulares, na minha casa mesmo. Essa foi minha segunda experiência como professor. No final de 1995 eu fiz uma viagem para alguns países europeus, com meu amigo Itamar, que incluíam a Inglaterra e a Escócia. Voltei para o Brasil com uma certeza: tiraria um ano sabático e voltaria para passar um ano em Londres no final de 1998. Esperaria três anos e trabalharia para me preparar. 


Em dezembro de 1995, surgiu outra oportunidade de trabalhar como tradutor intérprete para um seminário de quatro dias sobre instruções nos princípios, operação e manutenção de equipamento de papelão corrugados. “Corrugated machinery, corrugated cardboard” O que era aquilo? Foi uma prova de fogo, mas consegui.

Em 1996, mais uma vez, um convite inesperado. Um amigo, chamado Ney, que também me conheceu na Associação JW.Org em Tatuí, era coordenador de uma escola de inglês pequena, na Praça da República em São Paulo. Surgiu um imprevisto com um professor e ele precisava desesperadamente de um professor substituto. Ele me telefonou e pediu, na verdade ele implorou para eu assumir um grupo de alunos de nível básico um sábado pela manhã. Relutei, pois eu tinha o meu emprego na empresa do meu cunhado durante a semana e além do mais, eu não tinha didática para grupos grandes e gerenciamento de alunos (class management). Foi então que ele me lembrou do grupo que eu tinha dado aula por volta de 1990, em Tatuí e de como eu me saí bem! Não era um grupo grande, era outra situação, mas eu daria conta! Era verdade, alguma experiência eu tinha! Foi assim que ele me convenceu a dar uma aula, para experimentar. Foi o suficiente! Eu dei conta do recado, dei a aula e consegui responder as perguntas dos alunos que emergiram durante o processo. Percebi que eles sabiam muito pouco e tinham muita vontade de aprender. No final da aula, o grupo falou com o Ney e pediu para eu ser o professor deles. Não queriam mais o antigo professor! Quando o Ney me ofereceu para assumir o grupo, não pude recusar. Além do mais, seria uma maneira de juntar mais dinheiro para meu ano sabático.

A verdade é que em 1996, abria-se escolas de inglês em cada esquina da cidade. Havia poucos profissionais qualificados. Bastava dizer que falava inglês, fazer um teste, uma entrevista e a escola dava treinamento. Muitos profissionais de outras áreas: dentistas, marketing, engenheiros davam aulas de inglês a noite ou sábados para complementar o salário ou fazer dinheiro extra. Era comum as pessoas perguntarem: "Você só da aula ou também trabalha?" Não demorou muito, outros professores da escola me incentivaram a tentar fazer testes para outras escolas. Eu fiz teste para professor na Fisk e no CNA. Comecei os treinamentos, mas optei por dar aula no CNA. A escola ficava em frente a biblioteca municipal Mário de Andrade na rua da Consolação, centro de São Paulo.  Seis meses depois eu deixei de trabalhar com meu cunhado e passei a trabalhar apenas como professor de inglês. "Eu agora só dava aulas!" Assim, eu teria mais tempo para estudar material didático e estratégias de ensino. Complementei minha carga horária com aulas na escola do CNA de Santo André, na Avenida D. Pedro II. Não demorou muito, eu já dava aulas para grupos de alunos de níveis intermediário, e intermediário superior.  Até aula de português para estrangeiros eu dei!


Mas o que eu queria era me especializar e ser um bom profissional. Sempre orientado pelos coordenadores das escolas e outros professores, eu busquei fazer cursos específicos para professores e a participar de workshops. Em novembro de 1996 eu prestei o exame para o certificado de Proficiência pela universidade de Michigan, EUA. No início de 1998 eu comecei um curso de um ano, na Universidade Presbiteriana Mackenzie de Complementação Pedagógica para o Ensino de Língua Inglesa. Uma das minhas colegas de classe, era professora na Cultura Inglesa de Santo André e costumava dizer que a Cultura Inglesa era a melhor escola de idiomas para se desenvolver como profissional e trabalhar. Eu coloquei como objetivo trabalhar nesta escola depois que voltasse da Inglaterra. Terminei o curso na Universidade Mackenzie no final de 1998, e logo em seguida, me desliguei das escolas onde eu trabalhava. No final de novembro de 1998, embarquei para os Estados Unidos e dez dias depois para a Europa. O ano de 1999 seria o meu ano sabático.

 Durante o ano de 1999 eu estudava diariamente por 3,5 horas por dia, primeiro no The English School at the Chelsea Centre e depois na The Burlington Shcool, as duas em Londres. Meu objetivo era prestar o CPE da universidade de Cambridge (Certificado de proficiência em inglês, hoje chamado de C2 Proficiency). Enquanto em Londres, eu tive experiência com a língua in loco, aprendi muito sobre a cultura britânica e busquei dominar a língua inglesa. Entre 1979 e 1998 eu tive contato com o inglês americano, tanto na Associação JW.org como nas escolas em que eu estudei. Tive muita dificuldade, nos primeiros três meses em entender o que os ingleses e britânicos falavam. Era quase outra língua. No final de 1999, fiz o caminho de volta para casa. Lá, eu não era professor, mas aluno.


Em fevereiro de 2000, dois meses depois do meu retorno ao Brasil eu comecei o meu treinamento para trabalhar como professor na Cultura Inglesa de Santo André. Em junho de 2000 eu prestei o exame para o Certificate of Proficienty in English. Muito mais difícil do que o de Michigan, sem comparação! Como a Cultura Inglesa é uma escola que investe muito em treinamento de qualidade para os professores, eu aproveitei para fazer vários cursos, entre eles o PEP, de pronúncia e prestei o BULATS (The Business Language Testing Service - descontinuado em 2019).

Decidido a seguir avante nesta área, eu fiz também a faculdade de Letras em Santo André. Não aprendi tanto sobre a língua em si, mas muito sobre linguística, literatura inglesa e americana, além das matérias da língua portuguesa que foram muito interessantes. Meu trabalho de conclusão de curso tinha como tema: “A interferência da língua materna na redação em inglês e a intervenção do professor.” No último ano da faculdade, eu também fiz o curso de treinamento para professores, ICELT (In-service Certificate in English Language Teaching). Trata-se de um curso de treinamento para professores voltado aos profissionais que já ensinam inglês a falantes de outros idiomas. O Certificado é também da Universidade de Cambridge. Passei com ‘Merits’. Depois disso fiz o treinamento para ser Speaking Examiner para os exames da Universidade de Cambridge e fui aprovado em abril de 2006.


Mudei de Santo André para a cidade de São Paulo e voltei para a universidade em fevereiro de 2009, na PUC SP. Em dezembro de 2010 conclui o curso de Pós-Graduação Lato Sensu “Especialização em Língua Portuguesa”. Não era voltado à língua inglesa, mas com forte atenção a linguística aplicada ao texto. Participei de vários workshops e seminários como o ABCI (Associação Brasileira de Culturas Inglesas) de 2012 em São Paulo, e um curso de extensão na Faculdade Cultura Inglesa “Léxico e ensino de inglês como língua estrangeira.” 


Além da Cultura inglesa, paralelamente, dei aulas particulares para alguns alunos, de diferentes áreas como jornalista, escritores, advogados e médicos. Também fui professor de inglês no Colégio Hebraico Brasileiro Renascença por cinco anos entre 2011 e 2016 onde dava aulas para os níveis Fundamentais 1 e 2 e Ensino Médio. Uma experiência totalmente nova e enriquecedora. Entre elas, eu fui intérprete, no auditório da escola para a cientista cristalógrafa israelense Ada Yonath, ganhadora do prêmio Nobel de Química de 2009, conhecida pelo seu trabalho pioneiro na estrutura dos ribossomos.


Entre 1996 e 2020, passaram-se 24 anos e continuo trabalhando como professor de inglês. Hoje, dezembro de 2020, sigo trabalhando para a Cultura Inglesa como professor. Embora eu fiz treinamento para coordenação e gerência, decidi continuar na sala de aula.  Posso afirmar que, ninguém fica tanto tempo em uma área se não gosta do que faz. Além do mais, o professor é um eterno aprendiz, pois mesmo ensinando, aprende. Tem sido um percurso muito enriquecedor! Ao longo do caminho acumulei experiência e conhecimento, tanto da língua como de estratégias. Eu aprendi muito e ainda aprendo, cada dia! Não dá para fechar um livro e dizer: “Pronto, agora eu sei tudo!” Como disse o filósofo Sócrates: “Só sei que nada sei.

Nesses 24 anos, tive um maior contato com o inglês britânico. Hoje consigo diferenciar bem os sotaques, as nuances e as expressões próprias do inglês americano e do britânico e transfiro esse conhecimento e essas informações aos meus alunos. Eu os ajudo a notarem que o inglês é uma língua internacional e não pertence ao "UK" ou "USA", dessa forma, não serão pegos de surpresa como eu fui quando viajei para a Inglaterra pela primeira vez em 1995. 

Entre 1979, quando comecei a estudar inglês, até o final de 2020, eu experimentei vários métodos de ensino, como aluno e como professor. Usei quadro negro com giz branco, lousa branca com pincel colorido, overhead projector (projetor), cópias xerox de material para os alunos, depois passamos para a 'smart board' (lousa digital) e agora dou aula online, pelo Zoom. Ao olhar para trás e analisar como eu aprendi inglês e continuo aprendendo, eu percebi que hoje parece ser mais fácil aprender um idioma devido à internet, a tecnologia e os métodos que foram aprimorados. Entretanto, havia algumas estratégias que usávamos então, que foram deixadas de lado ou substituídas ou adaptadas. Fica o convite a leitura de uma próxima postagem quando falarei deste assunto: Métodos e abordagens. Por quantas passei?








































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