Meu nome é Luiz Sarti e venho de
família italiana. Desde criança, algumas palavras italianas já faziam parte do
vocabulário da família, e outras derivadas do italiano, como ‘narotio’ /narotchio/
para meleca de nariz, que devia ser uma mistura de ‘naso’ (nariz) ou ‘narice’
(narina) e a palavra italiana ‘móccio’ (meleca). Minha mãe dizia também:
“Você é um polenta mole!” Usava a palavra ‘polenta’ no lugar de
preguiçoso, ou preguiçosa, muito usado ainda hoje na Itália. Algumas palavras
que meu pai ensinava para nós em italiano incluíam ‘cuchêro’ para colher que
provavelmente vem do dialeto vêneto ‘cuciaro’
ou ‘scujero’. E havia os meus avós Ângelo e Virginia que praguejavam
com as expressões ‘Dio porco’ e ‘spelandron de la Madonna’ para
preguiçoso, ou chamavam minha tia Nadir de Nadire, com a letra ‘e’ no final.
Nos anos 70, mudou-se
para nosso bairro, na cidade de Mauá, SP, a
família Schiavelli. Vicente, o pai, era italiano. Frequentávamos a
mesma congregação e ficamos muito amigos da família. Minha irmã mais velha,
Elza, acabou se casando um sobrinho dele. Aprendemos a apreciar as músicas
italianas que faziam sucesso e tocavam no rádio com frequência. Eu ouvia
músicas como "Nel bly dipinto di blu" do compositor
Domenico Modugno de 1958, Roberta e Champagne na voz de Pepino de
Capri e o dueto impressionante de Wess & Dori Ghezzi no refrão de "Noi Due Per Sempre" e “Tu
Nella Mia Vita”.
Quando adolescente,
eu e minhas irmãs íamos ao cinema para assistir a reprise do filme "Dio Come ti Amo" de 1966 com
Gigliola Cinquetti como atriz e cantora. Nós aprendíamos as letras das músicas
de cor, cantávamos juntos e nem sabíamos o que estávamos dizendo! Quanto à
culinária italiana, aos domingos não faltava em casa macarronada, polenta com ragu,
nhoque ou lasanha.
A família do meu pai, meus tios e primos, não
escondia o orgulho de serem ‘italianos’. Mais tarde descobri o sentido disso na
palavra ‘italianidade’ que corresponde à “identidade étnica” ou valorização e
positivação da identidade cultural italiana atribuída aos italianos e aos seus
descendentes no Brasil. Eu absorvi isso da família, mas o grande paradoxo, era
que ninguém falava o idioma e nem mesmo sabiam em que cidade meus bisavos
haviam nascido na Itália. Dediquei muito tempo até descobrir recentemente, com
ajuda de alguns primos, que vieram de Castelguglielmo, Rovigo, Vêneto. Criei e
mantenho um blog para explicar tudo isso: La Nostra Famiglia
Eu tinha interesse
pela cultura italiana e orgulho de ser descendente de italianos, mas tinha vergonha
por saber quase nada do idioma. Mas, como disse nas postagens anteriores, a
necessidade, as circunstâncias e oportunidades me levaram a estudar outras
línguas. Durante toda minha infância, adolescência e vida adulta, eu só mantive
contato com a língua e cultura italiana através de filmes e músicas e a novela
Terra Nostra. Nem mesmo livros de autores italianos eu li. Mas tudo mudou em
2015.
De repente, eu
resolvi começar. Entrei no Youtube e comecei a procurar vídeos com conteúdo básico
como números, a pronúncia do alfabeto e palavras básicas. Comprei um caderno, e
no dia 28/06/2015 fiz minhas primeiras anotações. Em julho comprei um livro de
“grammatica pratica della língua italiana” e um livro de vocabulário. As
datas anotadas no caderno indicam que estudava um pouco cada dia. Mas eu sabia
que estudar gramática não me levaria a me comunicar em italiano. No dia 31 de
julho comecei a ter aulas via Skype com a Fernanda Stucchi, uma amiga,
professora de italiano que morava em Sertãozinho, SP. Por coincidência, é a
cidade onde meus antepassados vieram morar, quando chegaram ao Brasil.
Em dezembro de 2015 o
caderno já estava completo de anotações e foi preciso começar outro.
Paralelamente, comecei a assistir vídeos em italiano no Youtube para aprender
mais sobre a Geografia, História e Cultura italiana. Vi uma série inteira
chamada Magnifica Itália com mais de 21 horas de filmagens. Em seis meses, eu
assistia tudo sem legenda em português. Dois anos depois, em julho de 2017,
finalmente viajei para a Itália com um amigo, o Ernesto, que tem um irmão
morando em Vila Franca, Verona. Consegui me comunicar, pedir informações no
aeroporto e agência de carros, hotel, restaurantes, e até encontrar o hotel,
depois de me perder do Ernesto em Roma.
Depois de um tempo,
eu parei o curso com a Fernanda, mas mantive contato diário com a língua. Quando
intensifiquei a procura de documentos dos meus antepassados, li muito material
em italiano, desde e-mails, documentos e artigos sobre arqueologia. Descobri o
autor Edmondo de Amicis e seus romances Sull’Oceano (Mar aberto), e Cuore.
Também Alessandro Manzoni e I Promessi Sposi (Os noivos) e outros mais
populares.
Eu continuo até o dia
de hoje o contato através de séries italianas, muitos podcasts, audiolivros e
livros. Faço um estudo sistemático com um curso audiovisual antigo e uso
algumas técnicas que me ajudam a melhorar a pronúncia e automatizar a língua. Tenho
um interesse muito grande por História e ouço quase diariamente podcasts do Storia
d’Italia, Il podcast di Alessandro Barbero. Alguns de notícias como o Radio
24 de manhã e Effetto notte antes de dormir. Podcasts sobre a língua e
cultura como Piccolo Mondo italiano, Podcast italiano con Davide
Gemello, L’italiano Vero e italiano automatico e LearnAmo. Também sigo
alguns canais no Youtube. Quando encontro um amigo que fala italiano, me
arrisco a manter uma conversa no idioma do Dante Alighieri. Aprendi muito sobre
a Cultura e a História italiana. Só agora me dou conta, que não sabia nada sobre
aquele país. Faz parte dos meus planos voltar a ter aulas de conversação. A
viagem para julho de 2020 foi cancela devido a Covid-19 e adiada para julho de
2021.
Talvez eu tenha
deixado esse idioma para o final, devido a minha relação afetiva com ele.
Poderia dizer muito mais, mas acredito que já respondi à pergunta: Por que
estudo italiano?
Eu comecei com 53
anos de idade. Não sabia quase nada quando comecei. Ter estudado outras línguas
antes, com certeza facilitou o estudo e a aprendizagem, pois não foi preciso
experimentar com metodologias diferentes, embora tenha sido a primeira vez que
fiz aula remota (online). Eu acompanhei a evolução dos métodos e abordagens nos
últimos vinte anos, como professor e também como aluno. Acredito que saber, nem
que seja um pouco do que está por trás da maneira como estudamos, nos ajuda a
escolher maneiras de impulsionar e otimizar o aprendizado. A maneira “como” eu
estudo italiano, é assunto para outra postagem.
Abaixo um pequeno trecho do vídeo sobre o tema acima publicado no IGTV do @liinguadireta
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