Meu primeiro contato com a língua francesa foi através da música. Eu nem mesmo conhecia alguém que falasse o idioma, mas as décadas de 60 e 70, foram marcados por vários sucessos de canções francesas que tocavam no rádio. Eu ouvia as vozes de diversos cantores interpretando suas canções: Hervé Vilard: ‘Capri c’est fini’, Adamo: “Inch’Allah”, Denise Emmer: “Alouette”, Edith Piaf: “L’Hymne à L’amour”, Françoise Hardy: “Tous Les Garçons et es filles”, e também Gilbert, Adamo e Mireille Mathieu. Eu ouvia, cantava, mas não entendia o que diziam. Devo ter sido atraído pelo som ou talvez pelo prestígio que se tinha por quem falava o idioma.
Comecei a estudar em
1969 em uma escola pública e aguardava ansiosamente iniciar o ginásio (quinta
série) para começar a estudar francês, que era ensinado como língua
estrangeira. Mas não tive sorte. Em
1971, o francês deixou de ser matéria obrigatória nas escolas públicas. Com a
aprovação da Lei de Diretrizes e Bases da Educação – LDB, Lei nº 5.692, de 11
agosto de 1971 (BRASIL, 1971) o inglês passou a fazer parte da grade curricular
em detrimento do francês. (1Veja a referência abaixo). Meu amigo, Orlando
Schiavelli, um ano mais velho que eu, me deu de presente o livro Cours de
Langue et Civilisation Françaises – G. Mauger, edição 1953, que ele havia
comprado e não usaria mais. Com o livro aprendi algumas palavras e frases como:
‘um homme’ (um homem), ‘une femme’ (uma mulher), ‘Qu’est-ce que c’est?’ (O que
é isso?), ‘c’est um livre’ (é um livro) etc.
Por questões práticas,
aos quinze anos de idade, comecei a estudar inglês na escola de idioma Fisk,
mas não desisti do francês. Infelizmente eu não podia pagar um curso de francês
e inglês ao mesmo tempo, nem tinha tempo, pois estudava e logo comecei a
trabalhar. No mesmo ano, em 1977, a ex modelo jamaicana Grace Jones lançou o
álbum Portfolio e regravou a música ‘La Vie en Rose’ com uma reinterpretação
muito pessoal e marcante. Eu memorizei a letra da música. Foi uma maneira de
manter contato com a língua.
Foi somente em 1986, que eu comecei a estudar a língua. Eu já tinha 24 anos de idade. Maria Tereza, a esposa de um amigo de trabalho, ao saber que eu gostava do idioma, me emprestou uma caixa completa com 18 fascículos do Curso de Idioma Globo. Trata-se de um curso audiovisual interativo, que vinha acompanhado de outra caixa com 18 fitas cassetes. Ela já havia feito o curso todo e deixou eu à vontade para usar por um bom tempo. E foi assim que eu fiz o meu primeiro curso. Em outra oportunidade, vou explicar como funciona esse curso, suas vantagens e desvantagens.
Na década de 80, a
Fundação Padre Anchieta, TV Cultura, veiculava alguns cursos de línguas
estrangeiras como Viaje al Español, Family Álbum, Alles Gute, Vamos Aprender
Japonês e Francês em Ação. No final dos anos 80, eu aproveitei para fazer
o curso de francês. Gravava as aulas no videocassete para assistir quando
possível. Recebi pelo correio um livro com os diálogos, que lia após assistir
aos vídeos. O curso Francês em Ação, produzido pela universidade de Yale nos
Estados Unidos, contava a história de Mireille, uma moça francesa, e Robert, um
rapaz americano que tinha mãe francesa e estava em Paris a passeio. O curso era
composto por 52 episódios de meia hora onde o professor, Pierre Capretz,
conduzia a aula em forma de imersão. Não havia tradução, e a explicação do
vocabulário e estrutura da língua eram apreendidos pelo contexto. (2 veja o
link abaixo)
Na empresa em que eu
trabalhava, fiz amizade com a Hosa e a Veanouche, armênias criadas na França
até os vinte anos. Eram muito pacientes comigo e conversávamos em francês
sempre que possível. Nessa mesma empresa, quando havia visitantes franceses e
não havia nativos que os pudessem receber, eu era chamado para ajudar. Morria
de medo de falar e cometia muitos erros, mas conseguia me comunicar. Cheguei a
ser cicerone para um grupo de trinta franceses, uma vez.
Quando comecei meus
preparativos para viajar a Europa com um amigo, comprei um livro para viagens
com diálogos e vocabulário prático para situações de viagem. Procurei memorizar
alguns diálogos. Fiz minha primeira viagem a Europa em 1995. Visitei Paris, Luxemburgo,
Bruxelas e parte da Suíça. Foi minha
segunda prova de fogo. Sobrevivi.
Quando decidi que seria professor de inglês, fui para a universidade e me dediquei ao certificados internacionais de língua inglesa. Foi assim que acabei indo estudar inglês em Londres em 1999. Depois de voltar, no ano 2000, um amigo, Marcelo Furlin, professor na faculdade Metodista de SBC, me deu de presente dois livros: Certificat d’études de français pratique, e exercises de Grammaire Française. O primeiro é usado para alunos que querem prestar exames internacionais como o DELF – Diplôme d'Etudes en Langue Française, DALF - Diplôme Approfondi de Langue Française e TCF – Test de Connaissance du Français. Foi então que me dei conta, que sem um estudo sistemático da língua, eu não conseguiria prestar um exame. Mas ainda levou dez anos até eu finalmente fazer um curso com um professor de francês.
Como podem observar, eu
fiz os dois cursos sozinho, de maneira autodidata, sem ajuda de professores. Eu
conseguia ler livros e assistir filmes em francês, mas percebi que cometia
erros simples de pronúncia e não tinha confiança para me comunicar quando
necessário. Foi então que finalmente decidi começar um curso. Comecei em uma
pequena escola, mas terminei com um professor particular o Antonio Peyril.
(Veja sua página no Facebook). Com o Antônio, eu dei um ‘boost’ (impulso) no
meu francês. Melhorei o vocabulário, o conhecimento de estruturas da língua, a
pronúncia, minhas habilidades de ouvir e falar. Voltei a ler livros e até consegui
ler Madame Bovary de Flaubert todinho em francês. Assistia filmes, ainda em DVD
na época e ouvia músicas. Eu tinha muito mais confiança em falar, mesmo sabendo
que cometia erros. O importante era me comunicar.
Parei o curso algum
tempo depois, mas continuo a manter contato com a língua. Como vários amigos
sabem do meu interesse pela língua e cultura francesa, eu acabo ganhando vários
livros como presentes e entro em contato com autores que não conhecia. Hoje eu
ouço podcasts em francês, entre eles alguns de notícias (Le Journal en Français
facile, Un Jour dans le Monde, Le semaine des médias e o C’est em france, com
atualidades), alguns são sobre a língua como InnerFrench, e meditação como o Pratiquer
la Méditation etc. Também assisto séries de TV na Netflix e filmes no
aplicativo Looke. Há vários canais no Youtube como o Une Vie Simple et Zen, e também
onde é possível aprender e tirar dúvidas de algumas coisas como o Podcast
Francais Authentique com o Johan Tekfak e páginas no Instagram como Francês com
Cris Deta, uma grande amiga.
Em 2017 passei duas
semanas em Nice, na França e foi então que eu percebi que eu conseguia me
comunicar em diversas situações familiares, pedir informações e até resolver
problemas complexos de passagem aérea e férrea e na hora de fazer compras. Quando
eu precisava, as palavras vinham e fluíam naturalmente. Elas estavam guardadas
em algum cantinho do meu cérebro, só precisando de estímulo para despertarem.
Concluindo, foram vários anos tentando
aprender. A grande lição que eu levo comigo é que aprender um novo idioma não
tem fim. Não é uma viagem com um destino. Por isso o importante é aproveitar a
viagem. Eu acredito que estudar a língua de forma sistemática, é importante,
mas que paralelamente, o aluno precisa estar exposto a língua, ouvir e ler
muito também. O processo pode ser prazeroso se lermos, ouvirmos e assistirmos
sobre assuntos que nos interessam.
Em outra oportunidade falarei sobre motivação e como vencer o desanimo, falta de tempo e recursos. Por hora quero apenas contar a minha história e mostrar que eu também fui e sou um aluno e estudante e sei quais são os desafios para aprender um novo idioma. Como eu disse anteriormente, aos 15 anos eu comecei a aprender inglês. Acabei começando a estudar por motivos práticos, mas aprendi a gostar do idioma. Resolvi me dedicar ao seu estudo e 25 anos atrás decidi que seria professor de inglês. Em outra postagem eu vou contar como foi a minha jornada. Será uma história diferente dessa, mas com alguns pontos em comum. Aguardem!.
Referencias:
LDB de 1971 e o ensino de línguas estrangeiras nas escolas:
Vídeo do curso Francês em ação disponível no Youtube:
Antonio Peyri – Página no Facebook:
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