Como podemos transformar vocabulário passivo em vocabulário ativo?
No artigo n. 8 deste blog eu usei a definição do Cambridge Online Dictionary mostrando que vocabulário é o conjunto de termos e expressões que pertencem a uma língua e falei também sobre os dois tipos de vocabulários: Passivo e Ativo. Podemos entender como vocabulário ativo (active vocabulary) as palavras ou expressões que usamos para nos comunicar, oralmente ou escrevendo, enquanto o vocabulário passivo é aquele que entendemos quando lemos ou ouvíamos alguém falar, mas não temos segurança em usar oralmente ou na escrita.
O artigo anterior fala sobre que tipo de vocabulário aprender, e como investir
nosso precioso tempo aprendendo o que é realmente necessário. Embora os livros
didáticos para o ensino de idiomas, já são geralmente organizados em tópicos básicos
globais, gerais e propicia ao estudante construir uma base ampla para depois
partir para tópicos mais específicos, quem sabe de fato que tipo de vocabulário
precisamos, somos nós mesmos. Portanto, ao lermos artigos e ouvirmos podcasts
ou vídeos sobre os assuntos que seja do nosso interesse, vamos também
construindo um repertório individual.
Por isso batemos tanto na tecla, quanto maior exposição ao idioma, melhor será o seu vocabulário. Mas, vamos ao que realmente interessa no artigo de hoje. No final do artigo n.8 eu mencionei que meu objetivo era repassar as estratégias e acrescentar exemplos práticos. Como podemos transformar vocabulário passivo em vocabulário ativo? Como utilizar as palavras, expressões e locuções que aprendemos passivamente?
Aprenda palavras pelo contexto. Como?
Imagine que você está escutando uma música e ouve uma palavra nova, que nunca ouviu antes, mas ela te chamou atenção. O que você fará? Anotar, é claro! Onde? No caderninho que você já carrega consigo pra cima e pra baixo com uma caneta dentro dele. Pergunte a uma pessoa que é fluente em inglês ou outra língua e a maioria dirá que anotavam quase todas as palavras novas que aprendiam. O caderninho, era aquele meu amigo inseparável que fazia companhia quando eu assistia um filme, no trabalho, na escola, quando saia para passear, por que você nunca sabe quando uma palavra nova irá surgir, certo? E além do mais, este caderninho vai te fazer ficar mais atento a ouvir e prestar atenção ao que está sendo dito.
Mas vamos voltar ao contexto. Segundo H. Douglas Brown, a melhor maneira de internalizar vocabulário vem da soma da compreensão e produção com palavras dentro de um contexto que permeia o discurso. Em vez de isolar palavras e/ou focar em definições de dicionários, o melhor é aprendê-las dentro de uma estrutura comunicativa no qual surgem os itens (ou palavras). O aluno associa as novas palavras com o contexto significativo a que elas se aplicam. (Brown p. 365).
De maneira prática, você está ouvindo a música ‘The killing moon’ da banca Echo & the Bunnymen. Você ouve eles cantarem: “Under a blue moon I saw you. So, soon you’ll take me up in your arms, too late to beg you or cancel it. ….”
Você verifica a letra
da música no Google e descobre que a palavra é ‘beg’ e não ‘bag’
(sacola). A coisa mais fácil a fazer seria procurar pela tradução, certo? Mas
então temos um problema. O mesmo professor emérito da universidade do Estado de
São Francisco, H. Douglas Brown diz que é preciso resistir a tentação de usar ‘muito’
(overuse) dicionários bilingues (português/inglês) ou tradução.
Nos anos recentes,
com a disposição de dicionários eletrônicos (online), os alunos estão cada vez
mais tentados a buscar uma resposta instantânea. Mas, infelizmente esta prática
raramente os ajuda a internalizar a palavra e mais tarde lembrar-se
delas e usá-las. (Brown pp 365, 366) Geralmente o que aprendermos rápido,
esquecemos rápido.
Quantas vezes, eu
como professor ouço a mesma pergunta: “Teacher Luiz, what is ‘beg’?’ Nas
vezes em que dei a resposta, o aluno usou a palavra e continuou a conversar. Algum
tempo mais tarde, eu perguntava ao mesmo aluno: “How do you say ‘implorar’
in English?” A maioria das vezes, eles não se lembravam. Se a pergunta fosse
o contrário: “como se diz ‘beg’ em português?”, eles então se lembravam
mais fácil. Isto prova que a palavra passa a ser parte do vocabulário passivo,
mas não do vocabulário ativo daquele aluno.
Vamos falar de
estratégias:
Então voltemos ao contexto. Que estratégias o aluno usará para tentar entender ou adivinhar o significado da palavra? Isto também passa por treino, começando por melhorar a competência de leitura. Falaremos sobre isso em outro momento, mas ler vagarosamente, palavra por palavra não ajuda muito a entender a ideia geral do texto. É preciso fazer um ‘skimming’ ou ‘scanning’ do texto. Em outras palavras, faça uma leitura rápida para pegar a ideia geral do texto (ou da letra da música).
Voltemos a nossa música. Você lê toda a frase em que a palavra ‘beg’
se encontra: “Under a blue moon I saw you. So, soon you’ll take me up in your arms. Too late to beg you or cancel
it. ….”
A primeira coisa é verificar
se a palavra ‘beg’ é um substantivo, adjetivo, verbo ou outro. A preposição
‘to’ antes de ‘beg’ indica que é um verbo. Ao isolar, não a
palavra, mas a frase em que ela se encontra, ajuda bastante. Temos então: Tarde
demais para ‘beg’ a você ou cancelar isso. Então você começa a pensar: Tarde
demais para fazer o que? Tente adivinhar e anote até três possibilidades.
Só então iremos ao dicionário, de preferência ‘monolíngue’ e confirmar se nossa
‘aposta’ foi bem feita.
De certa forma, transformamos
o processo e a estratégia em um jogo de adivinhar, e fica divertido também,
não é? Traduzir é uma técnica útil e frequentemente a mais simples e clara. Mas,
ao receber a tradução pronta, a aluno não aprende como a palavra é usada em uma
frase em inglês. Só a frase da música não é suficiente, é preciso verificar
outros exemplos.
Segundo o https://dictionary.cambridge.org/
a palavra ‘beg’ é um verbo e é definido assim:
‘to make a very strong and urgent request’.
Em seguida ele dá alguns
exemplos:
“They begged for mercy”, “Please, please forgive me! – she begged him.”,
“He begged her to stay, but she simply laughed and put her bags in the car.”
Deu para identificar
o significado da palavra? Nem foi preciso tradução. Além do mais, no mesmo dicionário
é possível ouvir a pronúncia da palavra ‘beg’ em inglês britânico e americano.
Ativando o
conhecimento:
Agora vamos a próxima
etapa. Repita a palavra e os exemplos em voz alta. Leia os exemplos, depois repita
sem olhar para a frase. Siga para a próxima frase. Em seguida, tente criar uma
frase significativa com a palavra ‘beg’. Por exemplo: “My dog begged me to take him for a walk, but I was too
busy!” (meu cachorro implorou para eu o levar pra passear, mas eu estava muito
ocupado.) Não há problema se a frase parecer estupida, desde que seja
verdadeira ou fácil para você associar com sua realidade.
Finalmente, faça anotação
da palavra, do significado dela, (pode até incluir a tradução), mas não esqueça
de um ou dois exemplos. Não anote no mesmo ‘caderninho’, mas em outro,
no caderno, ou no arquivo do computador, onde você costuma anotar as expressões
que aprendeu e estudou. O caderninho é só para anotar as palavras que surgem
do nada. Voltando ao caderno de estudo, quando rever suas anotações, porque
você fará isso no próximo dia, certo? Também, na próxima semana, você irá se
lembrar mais facilmente das palavras e expressões. E tem mais, cada vez que
ouvir a mesma música, irá se lembrar do significado da palavra ‘beg’. O próximo
passo é encontrar uma maneira de usar a palavra quando estiver conversando com
alguém ou escrevendo uma mensagem de texto.
Usando a estratégias com
outras palavras:
Aqui falamos sobre
como identificar o verbo ‘beg’, mas e quanto nos deparamos com
expressões, como por exemplo na mesma canção: “So, soon you’ll take me up
in your arms?” É possível usar a mesma estratégia do contexto, mas pode
ser um pouco mais difícil. De qualquer forma, ao confirmar em um dicionário de ‘idioms’
ou até mesmo escrever no Google: “take up sentence exemples” vamos nos
deparar com vários exemplos. Neste caso, o melhor seria escrever: “take me
up in your arms” para encontrar exemplos com o mesmo significado da letra
da música. Mas como eu disse antes, prática e treino tornam as coisas mais
fáceis, mas é preciso tempo para melhorar nossas estratégias.
E o que dizer de
substantivos, adjetivos e outros tipos de palavras? O artigo acabou ficando um pouco
longo! Não é possível esgotar todas as possibilidades, então vamos precisar voltar
a falar sobre isso. Então, ‘stay tuned’ e logo haverá mais artigos sobre
como usar estratégia para aprender vocabulário e outras competências da língua.
Referência:
Teach English – A training course for teacher by Adrian Doff.
Teaching By Principles – Na Interactive Approach to Language Pedagogy by
H. Douglas Brown.
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