“Resolvi que vou falar inglês. Agora é pra valer. Por onde começar?”
Por que “falar” e não “começar a estudar” ou “voltar a estudar”? Porque no fundo “falar” é o que todos querem: comunicar-se fluentemente em várias situações, não é verdade?
Mas então vamos começar com outra pergunta: Por que você quer falar inglês? Qual é o objetivo por trás deste desejo? Se estiver bem claro para você, então podemos ir para os próximos passos.
Podemos imaginar que alcançar o objetivo desejado é como fazer uma viagem. Primeiro decidimos o nosso destino, você precisa saber para onde vai. Tendo o destino bem definido, tomará outras decisões como por exemplo como irá, que meio de transporte usará, e qual é o custo envolvido em tempo e/ou dinheiro. Então o primeiro passo é definir seu ‘destino’ ou objetivo.
Passo 1: Descubra o seu real objetivo. Para onde você quer ir.
Por que quer falar, aprender, estudar ou voltar a estudar inglês? As respostas variam: meus pais querem porque é bom pro meu futuro, meu chefe quer, eu quero, vai me ajudar a ter um trabalho específico no futuro (aviação, hotelaria), vou ser promovido (melhor pontuação para promoção), vou melhorar meu currículo, vou poder assistir a filmes sem legendas, não vou mais passar vergonha nas reuniões nem aperto em viagens de negócios e lazer.
Mas qualquer viagem parte de um local. Então o próximo passo é saber onde você está, ou seja, qual é o seu local de partida.
Passo 2: Defina o seu nível de inglês atual. Saiba onde está agora.
Alguns alunos não saem do nível pré-intermediário porque tem a crença de que precisam dominar um conhecimento específico (gramatical, vocabulário, ou de um livro) para poderem ir para a próxima etapa. Parecem que vivem em um ‘looping’ como no filme ‘O Dia da Marmota’, não saem do lugar. Outros tem uma autoestima tão elevada, que só porque entendem filmes em inglês e sabem cantar algumas músicas, acham que são quase fluentes e já querem começar lá na frente.
É muito importante que você tenha consciência do seu nível atual e seja realista. Dessa forma, você não vai perder tempo estudando algo que já sabe, ou então começar em um nível muito desafiador e sentir-se frustrado porque não consegue acompanhar o curso ou os outros alunos. Por esse motivo é que muitos acabam desistindo e nunca chegam ao destino.
Mas como descobrir o seu nível? Que parâmetros utilizar? Os níveis de inglês e outros idiomas são definidos internacionalmente. Existe um parâmetro internacional medido pelo Quadro Comum Europeu de Referência para Língua CEFR que é usada para exames internacionais garantindo uma padronização e condição de igualdade na avaliação dos níveis. Seguindo este quadro uma pessoa pode ser classificada em seis níveis diferentes: A1, A2, B1, B2, C1 e C2. Veja a tabela no final do artigo. Para cada nível é preciso investir aproximadamente 150 horas, pode ser mais ou menos dependendo de vários fatores.
Para saber qual o seu nível, pegue a calculadora e faça um cálculo aproximado de quantas horas já estudou. Suponha que estudou mais ou menos 200 horas. Neste caso pode ser que tenha condições de começar no nível A2 (pré-intermediário), não será preciso começar do zero. Mas é preciso confirmar e para isso, poderá fazer uma prova. Existem vários testes online e eles são geralmente oferecidos por escolas de inglês. Alguns alunos tentam mais de um teste para comparar os resultados. Entretanto, nem todas as escolas de idiomas aqui no Brasil seguem o parâmetro internacional que eu mencionei. É melhor informar-se antes para não se enganar com o resultado.
Um teste interessante é o oferecido no site da Cambridge AssessmentEnglish, mas para um aluno iniciante, pode ser um pouco difícil e complicado entender como fazê-lo. Outro fator a considerar é que testes online geralmente só testam o seu conhecimento de vocabulário e estrutura da língua. Você pode ‘chutar’ a resposta e acertar. Para ter um resultado mais preciso, é importante também testar outras habilidades e competências como: writing, listening e speaking.
Já pensou em fazer este teste com um professor particular? Ele poderá elaborar um teste desenhado especialmente para você e juntos podem criar um plano de estudo para atingir seus objetivos dentro do prazo que você deseja, independentemente de onde e como irá estudar. Depois você decide os outros passos. Um especialista pode te ajudar a determinar qual é o seu nível de inglês hoje e, te ajudar a criar um plano para atingir sua meta e objetivo.
Sabendo qual é o seu nível, é possível ir para a próxima etapa. Quando você quer chegar lá? Quando planejamos uma viagem, definimos a data da viagem, data da partida, data de chegada e quanto tempo vamos ficar no local. Depois definimos a data de retorno. No nosso caso, estamos interessados em saber quanto tempo será necessário para atingir o objetivo já definido.
Passo 3: Em quanto tempo posso alcançar o meu objetivo? Como calcular e dividir este tempo para atingir o objetivo na data desejada?
Mais uma vez é preciso ser realista. A tabela abaixo indica aproximadamente quanto tempo é necessário para cada nível. Então não caia em promessas impossíveis de serem cumpridas. Não confunda fluência com proficiência. Um aluno pode estar no nível básico e falar fluentemente sobre os tópicos que estudou, mas não será capaz de falar fluentemente sobre tópicos mais sofisticados pois tem um cardápio escasso de vocabulário e estrutura da língua. A tabela mostra o que cada nível é capaz de fazer.
Para calcular o tempo necessário, vou usar como exemplo a pessoa que quer ter um nível B2 para prestar o IELTS em dois anos. Trata-se de um objetivo bem definido. Sobre a questão do exame IELTS, é bom se informar sobre a pontuação necessária para a posição que deseja, mas este vai ser assunto para outro artigo. Se esta pessoa já pode iniciar no nível A2 e quer chegar no final do nível B2, ela irá precisar aproximadamente de 450 horas de estudo. Então precisa pegar a calculadora e fazer as contas. Comece perguntando: Quantos dias por semana vou estudar? Quantas horas por dia? Vou estudar 3 vezes por semana, duas horas por dia. Então serão 6 horas por semana, ou 24 horas por mês. Se dividirmos as 450 horas por 24 temos 19 meses, ou 1 ano e 7 meses. “Not bad!”
Mas é preciso cuidado. Criar um plano muito ambicioso pode levar à frustração e possível desistência. Essa é hora de ser realista e pragmático. Comece pensando em quantas horas poderá estudar por semana. Quando eu digo estudar, é de forma ATIVA, sentado, com o livro aberto, caderno na mão, fazendo exercícios de ‘listening’ e ‘reading’, notando e anotando estruturas da língua (gramática) e vocabulário, praticando o que aprendeu, usando a língua de forma prática. Em outras palavras, dando atenção a todas as competências e habilidades necessárias para adquirir a língua. As horas que passamos ouvindo podcasts, assistindo a filmes e lendo material em inglês, de forma PASSIVA, não entram na conta de horas, embora possa adiantar o processo e muito*. Então vamos para a próxima etapa.
A pessoa já tem o seu destino, ou objetivo bem definido, já fez um teste e sabe qual o seu nível e já pode fazer as contas para definir em quanto tempo vai chegar lá. Agora então basta definir o meio de transporte para a viagem, no nosso caso, como irá estudar inglês.
Passo 4: Como chegar lá dentro do tempo estabelecido.
A metáfora aqui é óbvia. Se formos de São Paulo ao Rio de avião, gastamos menos tempo do que irmos de carro. O meio de transporte determina o tempo de viagem. Para atingir um objetivo de fluência e proficiência, o método e estratégias que irá escolher pode otimizar o tempo da chegada.
Duas coisas importantes nos ajudarão a decidir: tempo e dinheiro. Se você tiver os dois de sobra, fica tudo mais fácil. Talvez tenha tempo, mas não dinheiro, ou talvez tenha dinheiro, mas não tenha tempo. No pior dos cenários, não tem nem tempo nem dinheiro.
Se tiver tempo e dinheiro é possível morar e estudar fora, fazer um curso na parte da manhã e ainda ter a tarde para praticar com alguém na praia, na academia e nas viagens que fará no tempo livre. Há alguns países em que alunos que estudam inglês conseguem visto para trabalhar meio período. Em 1999, quando eu morei em Londres, eu estudava na parte da manhã e trabalhava em um café entre as 18 e 23 horas, 4 vezes por semana. Se tiver interesse, busque se informar.
Mas não é preciso morar e estudar fora para alcançar a proficiência ou a fluência desejada. Se não é o seu caso, então é preciso estabelecer objetivos possíveis. Será necessário fazer outras escolhas: Curso fora do país por um tempo, curso em uma escola de idiomas na minha cidade, professor particular, curso presencial ou online, estudar sozinho ou tentar duas ou três coisas juntos?
Novamente, um ‘coach’ ou estrategista, o mesmo que fizer o seu teste para definir o seu nível atual de inglês, pode te ajudar a fazer um planejamento. Mas não transfira a responsabilidade para ninguém, tudo deve ser decidido por você mesmo, baseado nas sugestões dadas e nas suas reais possibilidades.
Conclusão
Vimos que é preciso saber o porquê quer estudar inglês e ter um objetivo bem definido, saber para onde vai. É importante saber onde está, ou seja, qual o seu nível atual e onde quer chegar. Precisa chegar ao nível de proficiência? Se for para fazer um curso de pós graduação, mestrado ou doutorado no exterior, a resposta é sim, mas se for para viajar e poder se comunicar no aeroporto, hotel e em lojas e restaurantes, é possível estabelecer o nível B1/B2 como objetivo. Depois é preciso decidir em quanto tempo alcançara este objetivo e finalmente como fará isso.
Depois de ler este artigo, pode começar pelo primeiro passo. Escreva em um caderno qual é o seu real objetivo. Tente definir isso de forma precisa. Depois, poderá fazer um teste para descobrir o seu nível. Fica então os dois últimos passos para serem definidos e fazer o seu plano de ‘viagem’. Mas precisamos começar, não é mesmo?
Além de ter um objetivo bem definido para fazer nosso planejamento, algo muito importante é se conhecer. A motivação é um ponto importantíssimo para iniciar, mas também para continuar a estudar e chegar lá. Ainda temos algumas perguntas que precisam ser respondidas: como manter a minha motivação inicial? Como estudar sem cair no tédio? Como otimizar o meu tempo? O que estudar?
É para isso que servem os ‘coaches’ e estrategistas, não é? Na próxima semana vou dar atenção a estas perguntas. Enquanto isso reflita nos pontos e passos que mencionei acima.
Quadro Comum Europeu de Referência para Língua CEFR:
Níveis |
Equivalência |
Horas* |
Can do = indica competência
comunicativa |
C2 |
Proficiente |
150 |
Pode entende com
facilidade praticamente tudo o que ouve e lê. Consegue resumir informações de
diferentes fontes faladas e escritas, reconstruindo argumentos e relatos em
uma apresentação coerente. Pode se expressar espontaneamente, com fluência e
precisão, diferenciando tons mais sutis de significado, mesmo em situações
mais complexas. |
C1 |
Avançado |
150 |
Pode compreender uma
grande variedade textos longos e exigentes e reconhecer o significado
implícito. É capaz de se expressar fluente e espontaneamente sem muita busca
óbvia de expressões. É capaz de usar o idioma de maneira flexível e eficaz
para fins sociais, acadêmicos e profissionais. Pode produzir texto claro, bem
estruturado e detalhado sobre assuntos complexos, mostrando o domínio de
padrões organizacionais, conectores e dispositivos de coesão. |
B2 |
Intermediário
Superior |
150 |
É capaz de
compreender as ideias principais de um texto complexo em tópicos concretos e
abstratos, incluindo discussões técnicas na sua área de especialização. Pode
interagir com um grau de fluência e espontaneidade que torna possível
comunicação com falantes nativos sem muito esforço para os interlocutores. É
capaz de produzir textos claros e detalhados sobre um assunto atual,
apresentando as vantagens e desvantagens de várias opções. |
B1 |
Intermediário |
100 |
É capaz de compreender
os pontos principais ao ouvir sobre assuntos familiares referente a trabalho,
escola, lazer. Pode lidar com a maioria das situações que podem surgir em uma
viagem. É capaz de se produzir textos simples sobre tópicos pessoais, e
descrever oralmente experiencias e eventos, falar sobre esperanças e ambições
e dar razões e explicações resumidas para opiniões e planos futuros. |
A2 |
Pré-intermediário |
100 |
É capaz de compreender
frases e expressões usadas com frequência relacionadas a áreas de relevância
imediata (informações pessoais, compras, geografia local, emprego).
Comunica-se em tarefas simples e rotineiras que requer troca simples de
informações sobre assuntos familiares e rotineiros, descrever aspectos de sua
formação e áreas de necessidades imediatas. |
A1 |
Básico |
100 |
Compreende e usa
expressões cotidianas familiares e frases básicas destinadas a satisfazer
necessidades concretas. Consegue se apresentar e outras pessoas, falar sobre
dados e informações pessoais. Interage de forma simples com ajuda do outro
interlocutor. |
Obs.: * Trata-se
de uma média de horas, que pode variar para mais ou menos e depende de uma
série de fatores. A tabela ajuda a fazer um primeiro plano que vai sendo
ajustado com o passar do tempo.
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