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14. Estilo de aprendizagem individual – qual o seu?

Nem todos acham fácil escolher que tipo de curso de idiomas fazer. Além de ter informações sobre as vantagens e desvantagens de cada tipo de curso é muito importante se conhecer bem. Seria então o caso de fazer um teste de autoconhecimento? É possível desenvolver a autoconsciência quanto a tendencia de estilos? 

Reconhecendo o seu estilo de aprendizagem será mais fácil a compreensão de suas habilidades e tornará possível aprender a otimizar suas tarefas e aumentar a produtividade. O primeiro passo é fazer distinção entre estilo e estratégia. Eu abordarei estratégia em outro artigo futuramente, agora falaremos sobre estilo. 

Estilo se refere a personalidade (extroversão/introversão, autoestima, ansiedade) ou cognição (orientação direita/esquerda do cérebro, tolerância à ambiguidade, sensibilidade). Estilo se refere aos traços e características consistentes e permanentes, tendencias, ou preferencias que diferencia uma pessoa de outra e caracteriza como uma pessoa geralmente se comporta. (Brown 192) 

Muitos falam em estilos de aprendizagem ou ‘learning styles’. Mas, será mesmo que algumas pessoas aprendem melhor de um jeito enquanto outras pessoas de outro jeito? E essa história de que há pessoas que usam o lado direito ou esquerdo do cérebro e aprendem melhor usando estratégias diferentes? Qual o melhor estilo para aprender línguas? É possível mudar estilos e nos forçarmos a usar aqueles que são ideais na aprendizagem de línguas, mesmo se não forem características fortes em nós? 

Cognição: Lado direito ou esquerdo do cérebro 

Os estudos sobre o funcionamento do cérebro ganharam importância com os trabalhos de Roger Sperry, cientista norte-americano, que na década de 1980 propôs a divisão cerebral em hemisférios e funções. Através de seus estudos, ele concluiu que os lados direito e esquerdo do cérebro desempenham funções diferentes: lógica e criativa, sendo o esquerdo responsável pelas decisões ‘racionais’ e o direito pelas escolhas ‘emocionais. Seus estudos indicam que tais funções são complementares na formação de conceitos e ideias que direcionam as escolhas de cada indivíduo.

foto - Fonte: https://netscandigital.com/wp-content/uploads/2017/06/cr4.png

Algumas pessoas são mais propensas a utilizar um ou o outro lado do cérebro. Também, a sociedade ocidental valoriza mais quem utiliza o lado esquerdo do cérebro, ou seja, as pessoas mais racionais. Com qual delas você se identifica mais, você acredita que é orientado mais pelo lado esquerdo (lógico) ou o direito (criativo) do cérebro? 

Este é um primeiro passo para se conhecer. Entretanto, como os dois hemisférios são complementares, é importante estimularmos os dois lados do cérebro. Algumas sugestões para isso são: estudar um instrumento musical, fazer palavras cruzadas e Sudoku, fazer contas no papel (em vez de usar a calculadora) e aprender outro idioma. Ao aprender outro idioma, temos maior contato com a leitura, o reconhecimento de símbolos gráficos desconhecidos, e é um ótimo exercício de memorização. 

Mas na hora de estudar um idioma, como utilizar nosso autoconhecimento em benefício próprio para otimizar a aprendizagem? 

‘Learning Style’ (Estilo de Aprendizagem) Do que se trata? 

Ele é definido como a maneira que uma pessoa utiliza para aprender. Cada indivíduo tem sua forma própria de aprender que foi adquirida ao longo da vida, ou devido a fatores biológicos e/ou culturais. Afirma-se que cada indivíduo apresenta facilidade com um determinado estilo e dificuldade com outros, portanto tais estilos são únicos e pessoais. Existem diferentes teorias a respeito dos estilos de aprendizagem e, portanto, formas diferentes de classificação. Entretanto, todas concordam que se trata da estratégia particular de aprendizagem adotada por cada um de nós e que facilita a assimilação de conteúdo novo ou competências e habilidades. 

De acordo com a teoria desenvolvida por Fernand e Keller e Orton-Gillingham, existem três diferentes estilos, relacionados aos canais sensoriais: visual, auditivo e cinestésico. Há outros livros e estrategistas que dividem esses estilos em mais categorias, mas essas três são amplamente difundidas e aceitas. Vamos ver ou rever cada um deles: 

Estilo visual: Os aprendizes aprendem através da visão. A assimilação de conteúdo é facilitada através de palavras, e/ou estímulos visuais: imagens, gráficos e vídeos. As pessoas podem ser verbais ou não-verbais. As verbais aprendem melhor com a leitura e escrita enquanto as não-verbais aprendem melhor com estímulos visuais, mapas mentais e videoaulas. 

Estilo auditivo: São aqueles que aprendem melhor escutando música, podcasts e áudios. Pode ser também através da comunicação oral, diálogos entre aluno e professor e entre outros alunos, discussões e debates. Esses alunos assimilam melhor o que aprendem em aulas ao vivo e com tutores que permitem a interação verbal e a troca de diálogo com outros alunos. No caso de aprendizagem combinada, o aluno precisa ter momentos para se socializar e ter contato com outros alunos, mesmo que seja de forma remota. 

Estilo cinestésico: Os estudantes aprendem melhor através do movimento e do estímulo externo. Não se trata somente da movimentação física, mas da interação e a possibilidade de manipulação de materiais. Os cinestésicos, por exemplo gostam de fazer anotações e grifar textos enquanto leem. No caso da escolha pelo e-learning, aprendem bem com a interação com alunos e tutores de forma remota, mas precisam sentir que há movimento, por isso gostam de atividades lúdicas como jogos (games). 

Entretanto, não seria correto nos colocarmos em uma caixinha única e nos limitarmos a um único estilo. Há consenso de que possuímos todos os estilos de aprendizagem, ocorre que um se sobrepõe ao outro em maior ou menor grau. 

Como podemos descobrir o nosso estilo? 

Os que defendem tal teoria dizem que para sabermos com qual estilo nos identificamos mais, podemos nos perguntar: Quando faço um exercício, prefiro fazê-lo de forma oral ou escrita? Quando penso em alguém o que geralmente me vem à mente, seus gestos, voz ou fisionomia? Geralmente aprendo mais facilmente ouvindo, lendo ou colocando a mão na massa? Quando precisa comprar uma peça de roupa, basta ouvir uma descrição, é preciso ver com seus olhos e/ou precisa experimentar a peça? Algumas pessoas têm predominância de mais de um estilo, por exemplo durante a aula, não consegue ficar parada apenas ouvindo o professor, por isso faz anotações, grifa palavras e sente necessidade de se movimentar. Quando estão sozinhas, devoram livros. Qual seria o estilo desta pessoa? Provavelmente visual-cinestésica. 

Trata-se de uma teoria aceita totalmente? 

Não. É importante deixar claro que nem todos acreditam que haja um ‘estilo de aprendizagem’ ou estão de acordo com essas teorias e, portanto, veem essa teoria como mito. A professora Dra. Tesia Marshik, professora assistente de psicologia na universidade de Wisconsin-La Crosse é uma das que contestam a teoria de aprendizagem. Seus interesses de pesquisa em psicologia educacional incluem motivação do aluno, autorregulação e relações professor-aluno. Segundo ela, as pessoas não têm estilos, mas preferencias que podem ser auditivas, visuais ou cinestésicas, mas segundo sua pesquisa, essas preferencias não intensifica ou melhora a aprendizagem, e ela fez testes para comprovar isso. 

Então, como aprendemos? A professora Marshik, cita outros autores como Chase & Simon, 1973 cujas teorias mostram que armazenamos informações com ajuda de ‘significados’ e não devido a capacidades sensoriais. Para reter informação precisamos organizá-la de maneira que faça sentido para nós e conectar a nova informação com algo que já conhecemos e nossas experiencias. Segundo ela, outro motivo que nos ajuda a aprender é o conteúdo, ou seja, aprendermos aquilo que queremos aprender. Isto é motivação intrínseca. 

Sua conclusão é que quando incorporamos as diferentes capacidades e modos sensoriais ao aprender algo novo, tornamos a aprendizagem mais interessante e significativas e assim aprendemos mais rápido, melhor e armazenamos a informação com mais facilidade. Para ela, muitos acreditam na teoria do ‘learning style’ porque ela é atraente e faz cada um de nós sentir que somos diferentes, mas na questão de aprendizagem, segundo ela, todos aprendemos da mesma maneira. Podemos ter preferencias, mas não estilos de aprendizagem diferentes. 

Estilo ou sem estilo? 

Ao lermos teorias diferentes, observamos que usamos a parte lógica do cérebro para organizar as informações, mas há uma predominância do lado direito, mais criativo do cérebro. Indiferente de ser estilo ou preferência, há consenso de que apendermos melhor quando significamos o que aprendemos e que aprendemos melhor aquilo que gostamos e temos interesse. Quanto mais variarmos no uso de estratégias, sejam elas auditivas, visuais ou cinestésicas, mais interessante será a aprendizagem. Estaremos também estimulando os dois lados do cérebro, direito e esquerdo e consequentemente otimizando o aprendizado e ajudando a memorizar o conteúdo novo que aprendemos, além de desenvolver habilidades e competências. 

Segundo Brown (p.193) aprendizes bem-sucedidos de uma segunda língua, são aqueles que geralmente sabem manipular níveis de estilos (e estratégias) no dia a dia ao se deparar com a língua alvo. Primeiramente, eles têm consciência das características cognitivas e de personalidade ou tendencias que funcionam melhor para a aquisição bem sucedida da língua e então se esforçam em utilizar essas características. Como fazem isso? Sabendo ser uma pessoa que não gosta de correr riscos, é dominada pelo lado esquerdo do cérebro (lógico) e é intolerante a ambiguidade (característica cognitiva), a pessoa reconhece estas características dominantes e decide forçar a si mesmo a correr mais riscos, a equilibrar seu cérebro, a adotar uma atitude mais tolerante quando não entende algo novo ao estuar a língua alvo. Ela faz isso porque foi informada da importância desses últimos estilos mencionados para a maioria dos contextos de aprendizagem. (grifo meu) 

Qual o melhor estilo para aprender idiomas?

H. Douglas Brown (p. 199) faz uma tabela com os dez mandamentos para uma bem sucedida aprendizagem, quando se trata de línguas, indicando assim que são finitos:

  1. Baixa inibição – não ter medo
  2. Corre riscos – mergulha na língua
  3. Autoconfiança – acredita em si mesmo
  4. Tem motivação intrínseca – relaxa e deixa acontecer
  5. Empenha-se em aprendizagem cooperativa – gosta de companhia
  6. Usa processos do lado direito do cérebro – Visão holística, geral
  7. Tolera ambiguidade – lida bem com o caos
  8. Pratica a intuição – dá seus palpites
  9. Processa feedback baseado em erros – faz os erros trabalhar para si
  10. Define objetivos pessoais – não delega os planos para outros 

Você se identifica com a maioria desses mandamentos? Caso não, será possível desenvolver aqueles que não são naturais para nós? Continuando, Brown diz que os estilos não são tendencias imutáveis. Todos nós podemos compreender quem somos e dar passos para mudar aqueles traços ou características que nos impedem de aprender. Isso pode ser feito através de um programa de autoconhecimento.  

Reflexão e Conclusão:  

Na hora de escolher se irá fazer um curso em grupo, em uma escola de idiomas, ou com um professor particular ou mesmo estudar inglês sozinho, não delegue a tarefa. Mas para fazer tais escolhas, é preciso se conhecer bem. Use a sua experiencia de vida e lembre-se das matérias que mais gostava na escola e as que tinham melhores notas. Seria por causa do assunto ou da maneira como o professor apresentava? Você ainda se lembra de alguma fórmula matemática ou uma regra gramatical da língua portuguesa que aprendeu há vários anos? Por que será que ainda consegue se lembrar delas e usá-las? Como é que você aprendia essas matérias: lendo teorias, fazendo gráficos ou estudando em grupo? Geralmente aquilo que memorizamos só para fazer um teste, acabamos esquecendo depois do teste. Apenas nos lembramos daquilo que tem sentido para nós, ou ainda usamos no dia a dia. 

Não tenha medo de se arriscar e cometer erros, use eles para o seu benefício. Não tente analisar cada componente da língua. Se não entendeu algo no momento, provavelmente entenderá mais a frente quando estudar outro ponto gramatical ou novo vocabulário. Um dia a fixa cai. A melhor maneira de aprender é quando estamos relaxados e tranquilos. Caso não sejam características naturais da sua personalidade, faça esforço para desenvolvê-las. E acima de tudo, sinta prazer no aprendizado. Reflita sobre aquelas famosas frases feitas em cursos de motivação: O que se faz sem obrigação é o que nos define

Referência:

Teaching by Principles – An Interactive Approach to Language Pedagoty – H. Douglas Brown.

Sites:

https://netscandigital.com/blog/os-dois-lados-do-cerebro/

https://www.youtube.com/watch?v=855Now8h5Rs


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