Vimos na postagem anterior que a crença no talento nato e principalmente medo de cometer erros são os grandes inimigos de vários estudantes de línguas estrangeiras. Infelizmente, o medo atrapalha pessoas muito inteligentes e talentosas de desenvolver a fluência quando estudam um segundo idioma. Alguns alcançam a proficiência e conseguem, através da leitura e ‘listening’, entender e interpretar textos complexos, também escrevem muito bem, mas não conseguem desenvolver a habilidade ou competência oral.
O que é medo?
O medo está associado ao instinto de sobrevivência. Na
pré-história ajudou o homem convivia com animais ferozes gigantescos, aprendeu a
temer e a fugir deles para preservar a vida. Depois aprenderam a temer qualquer
coisa que fosse uma ameaça a sua existência, como doenças infecciosas. Assim, as
pessoas aprenderam a ter medo no decorrer da evolução humana, e esta
educação ainda continua. Por isso, a primeira parte de uma citação de Karl
Augustus Menninger diz: “Fear are educated into us, …” (O medo advém da
educação ...).
O medo serve para nossa proteção. Ele faz com que o ser humano pense nos riscos e consequências antes de fazer algo. Diante de uma situação de perigo, ou estímulo estressante, o cérebro é ativado involuntariamente, reage e aciona uma resposta imediata que nos prepara para agir. O cérebro libera substâncias químicas que causam o disparo do coração, a respiração ofegante, a contração do músculo, o suar frio, a dilatação das pupilas, resfriamento das mãos e dos pés, perda da voz. Essa reação é conhecida como reação de luta ou fuga. O medo pode ter início a partir de situações de gatilho que estimulam o estresse, como por exemplo, uma pergunta inesperada, antes de uma entrevista de emprego, um teste, um auditório lotado esperando por você e até pelo baque de uma porta causada pelo sopro do vento. Visto desta forma, o medo é uma reação involuntária e natural e não é sinal de fraqueza ou covardia.
Acontece que existem os medos reais, que
sinalizam possibilidades reais de perigo como um assalto à mão armada, ou uma
avalanche iminente, mas também os medos irracionais, como o de uma
barata, que são a maioria dos medos que sentimos. Este medo condicionado faz com que algumas pessoas encarem os cães como
monstros, enquanto a maioria os considera como parte da família. Talvez essas
pessoas tenham sido mordidas quando crianças e, tempos depois, o cérebro ainda
associa cachorros à ameaça. Uma citação de Rudyard Kipling sobre o medo diz: “Of all the liars in
the world, sometimes the worst are our own fears.” (De todos os mentirosos no mundo, algumas vezes os piores são nossos
medos.)
Medos
mais comuns
Durante a evolução humana, desenvolvemos o medo de perder, o medo do processo e medo do fracasso. Existem medos universais e medos específicos que variam entre os indivíduos. Segundo uma pesquisa feita em 2005, os medos mais comuns entre adolescentes são os ataques terroristas, aranhas e baratas, mortes, erros, guerra, peso, violência/crime, estar sozinho, futuro e guerra nuclear. Outros disseram ter medo de falar em público, de ir ao dentista, de sentir dor, de ter uma doença terminal e de cobras, e por fim o medo de escuro, medo de altura, medo de sangue, medo da morte, medo de dirigir, medo do fracasso, medo de lugares fechados, medo de falar em público, medo de tempestade e relâmpago. A grande maioria deles têm início na infância e são levados para a vida adulta.
Quando o medo passa a ser um problema?
Algumas pessoas gostam de sentir medo. Os parques de diversões
simulam situações de perigo e pagamos para usar os brinquedos, como a montanha
russa. Experimentar o medo de vez em quando é saudável, divertido e faz parte
da vida. Mas desenvolver e conviver com medo crônico pode ser prejudicial
fisicamente e emocionalmente. Ele passa a ser um problema quando a pessoa, por
causa do medo, evita participar de atividades diárias e a interação social. Em alguns casos o medo pode nos paralisar e impedir de executarmos
determinadas atividades, cumprir nossas metas e objetivos.
Superando o medo
Existem dois caminhos para a reação do medo: a luta
ou a fuga. No caso de uma pessoa que está estudando um idioma, como o inglês
por exemplo, e sente medo de falar com outras pessoas, ela terá dois caminhos.
Fugir, evitar falar ou então lutar, enfrentar o medo.
Mas para enfrentar o medo, o primeiro passo é conhecer a raiz dele, ou sua origem. Há casos agudos em que será preciso a ajuda de um profissional, mas no geral, isso não é necessário. Talvez o medo de falar vem do fato de ter tido pais ou professores exigentes que te corrigiam o tempo todo, ou te chamavam de ‘burros’ ou ‘idiotas’ cada vez que falava algo incorreto. As crianças que tiveram uma educação baseada no behaviorismo (ver artigo no. X) que punia os que cometiam erros e elogios aos que acertavam são mais propensos a esse tipo de medo.
Entretanto, saber a raiz do medo não é suficiente para curá-lo nem fará com que a pessoa deixe de ter medo de falar em público ou outro idioma automaticamente. Segundo os psicólogos, o medo só desaparece quando você enfrenta o que te dá medo. Mas não precisa ser de uma vez só. Você avança um degrau por vez, se aproxima dele e de forma corajosa o enfrenta. É preciso capacidade para agir com coragem para enfrentar o que nos dá medo. Vamos ver algumas sugestões de como enfrentar o medo.
Dicas de como superar os seus medos de forma
geral:
1. Conheça o seu medo. Muitos sabem do que tem
medo, mas não sabem o porquê tem medo. Já vimos acima que este é o primeiro
passo.
2. Aceite que tem medo. Como vimos anteriormente,
a fuga é uma reação ao medo. Se você tem medo de sentir medo, pode ser que fuja
dele. Mas negá-lo não fará que ele deixe de existir. Então, aceite e reconheça
o seu medo. O ideal é falar sobre ele com alguém com quem você tem
familiaridade e se sente confortável para falar o que sente. Se for aluno e tem
medo de falar inglês ou outro idioma, diga isso ao seu professor, ou a outro
colega da turma. Se preferir, fale com outra pessoa de confiança. Ao falar
sobre ele, terá clareza e será mais fácil aceitá-lo.
3. Entenda o seu medo. Reflita sobre em que
situações sente medo. Você sabe o motivo de se sentir assim? Veja o artigo no.
15 sobre Mindset fixo e o de crescimento. Talvez a raiz do seu medo está na
preocupação de “o que os outros vão pensar se eu não falar corretamente ou perfeitamente?”
pode ser a crença de que algumas pessoas já nascem com o dom, um dom que você
não tem.
4.
Escreva sobre os
seus medos. Sim, envie uma carta para você mesmo contando sobre o que provoca
tanto medo. A escrita é uma ferramenta que ajuda a organizar seus pensamentos, emoções
e ajuda a perceber coisas que ainda não percebeu. Não é necessário mostrar para
outras pessoas, basta escrever como uma forma de desabafo e buscar alívio dos
seus medos.
5.
Cultive pensamentos
positivos. Parece mais fácil simplesmente dizer: “Eu nunca vou conseguir
encarar o meu medo” ou “É difícil demais pra mim” e então desistir. Seria medo
de fracassar? Estaria colocando muitas expectativas na primeira tentativa?
Muitos perdem a oportunidade ótimas e nem mesmo tentam porque o medo do
fracasso as impede criando pensamentos negativos em suas mentes. Não seria a
falha uma oportunidade de acertar da próxima vez? Não faz ela parte do processo
de crescimento e aprendizado? Seja realista, aprenda com seus erros, não se
boicote adiando o processo. Isso se chama autossabotagem. Os pensamentos
positivos criam o ambiente propício para a superação do medo, pois é preciso
acreditar.
6.
Respire. Ao
respirarmos fundo, temos maior controle sobre o ar que inspiramos e expiramos.
Uma reação natural durante o medo é a respiração ofegante pois ela tem ligação
direta com nosso estado emocional. À medida que você obtém controle sobre a
respiração, você irá se acalmar e pensar com clareza. Sentirá que tem controle
da situação. Muitos fazem meditação diariamente para treinar a respiração.
7.
Ressalte as suas
vitórias. O medo é alimentado pelos fracassos e negativismo. Ao ressaltar suas
vitórias, terá mais confiança em si mesmo. Uma maneira de fazê-lo é anotar
situações bem sucedidas em um local em que possa ler toda vez que sentir medo.
Por exemplo. Talvez tenha medo de atender ao telefone no trabalho quando um
gringo liga. Pense em uma aula de inglês em que seu professor simulou uma
conversa ao telefone. Anote algumas palavras chaves para dizer logo ao atender
ao telefone como: “Name of departament, Luiz speaking. How can I help you?”
e frases para dizer caso não entenda o que a pessoa está dizendo, como: “Can
you speak slowly please! My English is not very good.” Ao conseguir fazer a
primeira vez, sentirá mais confiança para as próximas vezes.
8. Perca a vergonha. Todos nós estamos sujeitos a
situações que podem causar constrangimento, mas se ao falar com alguém cometer
um erro, ria de si mesmo e de seu engano, leve na brincadeira. As outras
pessoas estão mais preocupadas com elas mesmas do que com você. Talvez nem
percebam que você cometeu erros. O importante é a conexão, não a perfeição.
Veja a dica número dois sobre falar com alguém sobre isso.
9. Fazer terapia ou buscar a ajuda de um profissional é a última
sugestão, pois ele é aconselhável somente depois que você já tentou várias
estratégias sem sucesso. Por exemplo, algumas pessoas têm medo de dirigir. Hoje
há auto escolas que trabalham juntos com psicólogos. Estes acompanham o aluno
antes, durante e depois das aulas para ajudá-los a vencer o medo de dirigir.
Algumas fobias ou medos são decorrentes de situações que ocorreram na infância,
e um trauma pode ter desencadeado o medo. A terapia ajuda a pessoa a descobrir
a causa do medo e utilizam técnicas terapêuticas para controlar o medo. Existem
terapias comportamentais e terapias cognitivas. Eu pessoalmente não conheço nem
recomendo terapias, apenas sugiro que as pessoas se informem sobre elas.
Se você percebe que tem medos específicos, pode então lidar com
eles de forma específica. Vamos ver alguns exemplos. Alguns alunos não têm
dificuldades em falar sua língua nativa ou uma segunda língua com um parceiro
de aula ou com o professor, mas morre de medo em falar em público. Neste caso,
lembre-se que a grande maioria das pessoas sentem o mesmo. Uma maneira de
resolver isso é praticar. Algumas pessoas praticam em frente ao espelho, outas
gravam vídeos e depois assistem e vão memorizando o que dizer ou verificando o
que precisam melhorar. Comece fazendo apresentações para grupos de pessoas que
você conhece e depois vai se sentir mais confiante para falar para uma grande
audiência. Você já viu uma entrevista da Fernanda Montenegro em inglês em um
talk show americano? Ela diz de cara que está nervosa e com isso ganhou a
simpatia do apresentador e de sua audiência.
Será que o medo de falar outra língua vem da fobia social, o medo
de estar com pessoas? A raiz pode ser timidez ou baixa autoestima, ou o medo de
ser julgada, humilhada ou ridicularizada. Uma maneira de vencer este medo é
trabalhar a autoestima e gradualmente interagir com as pessoas nas atividades
do dia a dia. Se for um problema tão grave ao ponto de interferir na vida
social, é melhor buscar ajuda de uma profissional.
Pense no medo como algo orgânico. Se você fingir que ele não
existe, ele vai continuar lá e vai crescer. Se você tiver pensamentos
negativos, eles vão servir de adubo para o medo crescer. Então, quando mais
tempo levar para enfrentá-lo, mais trabalho terá para cortá-lo. Como o capim
que nasce no jardim, é preciso sempre o arrancar assim que ele nasce ou
desponta. É muito mais fácil e rápido. Então não procrastine. Os pensamentos
positivos são veneno para o medo. Troque os pensamentos negativos por
afirmações positivas. Escreva afirmações positivas em um caderninho e leia em
voz alta para si mesmo todos os dias. Como já dissemos antes, se o seu medo já
cresceu tanto ao ponto de tornar-se uma árvore, busca ajuda de um profissional e
coloque a arvore abaixo. Depois pique os galhos e o tronco e joguem em uma
fogueira. Elimine as raízes para que ele não brote novamente.
Há uma famosa citação de Karl Augustus Menninger que diz: “Fear are educated into us, and can, if we wish, be educated out.” (O medo advém da educação que recebemos, e podemos, se quisermos erradicá-lo pela educação.)
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